A pandemia de COVID-19 trouxe uma gama enorme de consequências para a humanidade. Vivenciamos uma experiência quase catastrófica, apocalíptica e isso fez com que mudanças significativas nos comportamentos surgissem. Entretanto, mesmo com todas as alterações e contradições, ainda somos seres humanos que necessitamos de satisfazer nossas necessidades básicas. As relações sociais são fundamentais para o fortalecimento da espécie humana, em suas individualidades e coletividades.
Assim, a busca por pertencimento que, após o advento COVID, perdeu muito do contato físico e aumentou significativamente os relacionamentos virtuais, onde a interação com o outro ficou mais fácil, porém, mais distante, numa realidade alternativa. Isso, aliado ao aumento dos transtornos mentais, com destaque para a depressão e outros sintomas de falta de saúde mental: ansiedade, pânico, drogadição...
A necessidade de segurança, objeto de estudo do psicanalista Donald Winnicott, identificou o objeto transicional (um urso de pelúcia, uma chupeta, uma fralda etc), como um item que facilita a transição nas fases do desenvolvimento humano e auxilia na diferenciação entre o bebê e sua mãe. Agora vivenciamos uma avalanche de notícias e críticas sobre um objeto, visto como uma cópia hiper-realista, de uma criança: os bebês reborn.
Autenticando o pertencimento, a autorrealização, o papel social, o vínculo afetivo; negando a solidão e idealizando um objeto, algumas pessoas, segundo informações dos meios de comunicação, buscam utilizar os serviços públicos para o atendimento das “suas crianças”, que são levadas para consultas médicas e vacinação. Temos que considerar que, muitas dessas notícias são vinculadas por redes sociais, onde a veracidade dos fatos pode ser questionada. Entretanto, um debate surge: a legitimidade ou não do uso de serviços públicos e o agravamento das questões psicossociais.
Se considerado como um hobby, um bebê reborn é apenas mais uma boneca, comercializada como tantos outros modelos, para todos os gostos e bolsos. Se avaliada a questão psíquica, temos mais um motivo para buscarmos nosso autoconhecimento e solução de conflitos.
Esperamos que este texto possa contribuir para o encontro de sua autorrealização como indivíduo e como membro dessa espécie tão ameaçada por ela mesma: nós, os seres humanos.